No sábado, dia 1 de maio, a antiga Estação Sul e Sueste, no Terreiro do Paço reabre ao público. Agora, dedicada ao lazer. É o novo Terminal de Cruzeiros fluviais no Tejo. O edifício foi remodelado e despojado de elementos adicionais acumulados ao longo de décadas. E voltou à simplicidade projetada por Cottinelli Telmo pela mão da neta, a arquiteta Ana Costa.
A Estação do Sul e Sueste, no Terreiro do Paço, foi inaugurada no dia 28 de maio de 1932, marcando, assim, a celebração da instauração da Ditadura Militar.
A ideia de uma estação para ligar Lisboa ao Barreiro, de onde partiam os comboios para Sul desde meados do século XIX, arrastava-se há décadas. Entre avanços e recuos e a instalação de um barracão em madeira e ferro, - “provisório” durante 80 anos – até à construção de um edifício de cimento e pedra, passou uma eternidade.
O tráfego entre as duas margens era já demasiado para uma estrutura pequena, com problemas de insalubridade, desconfortável para os utentes e sem condições para a atracagem dos barcos. “Um ignóbil pardieiro, que constituía para Lisboa, tanto aos olhos nacionais como aos estrangeiros, uma vergonha”, referia trinta anos depois da inauguração da nova Estação, a Gazeta dos Caminhos de Ferro.
Um projeto de família
“Digo sempre que este é um projeto de família. Começou com o Cottinell, continuou com o meu pai (o arquiteto Daciano Costa) e comigo. Comecámos com Interface, do outro lado e a reabilitação deste espaço, era o fim de festa”, conta Ana Costa. No entanto, o pai faleceu em 2005 e já não teve oportunidade de desenvolver o projeto. Acabou por lhe caber a oportunidade, mas no início ninguém sabia que era a neta (do lado materno) de Cottinelli porque profissionalmente usa só o nome herdado do pai.
Assume que travou muitas guerras porque lhe parecia ingrato que depois de um esforço tão grande de reabilitação da sala de bagagens e tendo a função do Metro cumprida, ninguém mais quisesse saber deste edifício histórico.
Por isso, considera que foi uma sorte a Câmara e o Turismo de Lisboa terem decidido dar-lhe o destino de erminal de cruzeiros fluviais no Tejo. “No fundo, é quase original, é outra vez um espaço de passagem, mas agora, mais para o lazer”.
Ainda assim, àqueles que pensam que a estação reabilitada é só para o turismo, faz questão de negar. “Isto é para todos nós porque todos vamos querer fazer a travessia, ir almoçar ou passear ao lado de lá; com a reabilitação da frente ribeirinha, de repente, a relação com a outra margem torna-se mais forte, isto é uma espécie de joia da coroa”.
Daciano da Costa acaba por marcar presença, também, através das poltronas por si criadas e que estão instaladas no vestíbulo, mas com pequenos apontamentos. “Este é um espaço de percurso, não de estadia. A estação é uma grande porta aberta sobre o rio”, diz Ana Costa.
Texto de Ana Carrilho
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